Triunfo

Da cidade alta vem o título majestoso: “Senhor das Ladeiras”. E é mesmo impressionante, forte e espetacular. Avistar um Careta estalando seu relho no ar é uma imagem que fica gravada nas mentes.

Triunfo

Da cidade alta vem o título majestoso: “Senhor das Ladeiras”. E é mesmo impressionante, forte e espetacular. Avistar um Careta estalando seu relho no ar é uma imagem que fica gravada nas mentes.

Em Triunfo a máscara se tornou elemento onipresente. Em placas e murais pelas ruas, nas marcas dos produtos locais, na decoração dos hotéis, no meio da lagoa central, lá está ela. Um símbolo, um ícone que revela a quem triunfar a subida das serras, que ali é terra de mascarados.

Em Portugal, “máscara” é careta. Daí vem a herança etimológica, mas as caretas remontam à Folia de Reis originária do Egito antigo, da festa do Sol Invencível. Eu, que não acredito em coincidências, vejo clara a simbologia desse Sol Triunfante, que tem a máscara como ícone misterioso, pleno de interpretações e possibilidades.

Contam os locais que a tradição foi iniciada por dois Mateus de Reisado, que querendo o anonimato para se divertir provocando outros brincantes, fizeram máscaras de papelão e começaram a brincar o Dia de Reis a seu modo.

Da origem popular dos Caretas de Triunfo até as fantasias super detalhadas, cheias de lantejoulas que chegam a custar entre dois e três mil reais, há um processo de espetacularização do brinquedo, que da manifestação carnavalesca espontânea, passa a performances, nas quais os Senhores das Ladeiras se apresentam para o deleite dos turistas que lotam a cidade.

Esse processo não diminui o encanto e a força popular dos Caretas. O povo segue brincando e reinventando, enriquecendo a brincadeira. Exemplo disso é movimento que fizeram as mulheres: cansaram de terem que esconder, além do rosto, seus corpos e gênero, criaram as trecas* femininas, trazendo outra perspectiva ao brinquedo.

Há ainda uma corrente que busca manter a essência simples dos Caretas, que tem representantes como o Mestre Teca de Agamenon, o Careta mais antigo das ladeiras. Ele defende a brincadeira com máscaras de papel e roupas cotidianas, vendo nisso democratização do brinquedo, menciona que assim as crianças de bairros periféricos podem participar mais livremente.

No equilíbrio entre tradição e contemporaneidade, entre sofisticação e despojamento das caracterizações dos Caretas, mascarados e mascaradas triunfenses inventam e reinventam uma cidade. Transformam toda ela em ícone e abrem fendas no cotidiano para que o lúdico ganhe as ruas.

*Treca é como se chamam grupos de Caretas que brincam juntos pelas ladeiras, como um bloco carnavalesco. Elas podem ter, por exemplo, um mesmo tema para as máscaras e fantasias.  

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