Afogados da Ingazeira
Afogados da Ingazeira
Em Afogados da Ingazeira, a manifestação dos mascarados parece preservar um caráter de brinquedo popular mais tradicional, menos alcançado pela espetacularização pela qual passaram outras manifestações similares. Mesmo de olhos fechados é possível perceber a chegada do Carnaval à cidade, pois se ouve em todos lugares o som dos chocalhos, anunciando mascarados que correm de um lado para outro e estalam seus chicotes: são os Tabaqueiros.
Os primeiros Tabaqueiros moldavam suas máscaras em uma base feita de barro, retirado da beira do Rio Pajeú, no mais absoluto segredo. Traziam no bolso da camisa uma porção de tabaco para fazer cigarro, e daí vem o seu nome. Durante o carnaval, tomavam as ruas, modificavam suas vozes para manter o anonimato e pediam dinheiro aos passantes, para gastar na festa. Os Tabaqueiros, assim como os Caretas de Triunfo, adotaram o relho - o chicote que estala no ar. Há uma mística relacionada a esse objeto, que atravessa a tradição das máscaras no sertão do Pajeú, região que abriga ambas as cidades.
A máscara e o relho são elementos em comum, mas as semelhanças não se estendem muito. Em Afogados da Ingazeira as fantasias são mais orgânicas e mais baratas. Algumas parecem mais improvisadas, diferindo do apuro estético dos Caretas. Além disso, os Tabaqueiros contam com outro importante e onipresente adereço: um cinto feito em couro, adornado com diversos chocalhos. Quanto mais elaborado o cinto, mais potente é o som que produz e enche as ruas, tomadas por crianças e adultos mascarados. Os afogadenses dizem “correr Tabaqueiro”, porque é preciso correr para que os chocalhos soem.
Os Tabaqueiros não estão imunes à globalização e às mudanças nos padrões de consumo. Das máscaras tradicionalmente feitas de papel em moldes de barro, boa parte dos brincantes aderiu às máscaras de plástico e de látex, inspiradas em personagens da cultura pop estadunidense. Alguns brincantes insistem na produção da máscara de papel e são conhecidos como “Tabaqueiros raízes”. Contudo, não há segregação de mascarados na brincadeira. O que importa é não ser reconhecido, se lançar na rua e brincar o Carnaval.
Correr Tabaqueiro é acessar um estado extra-cotidiano. A máscara esconde o indivíduo para revelar sua essência, por vezes abafada dentro de um papel social definido. É um ícone para três dias de possibilidade de uma eufórica exploração de novos “eus”.
A prefeitura de Afogados da Ingazeira promove anualmente um concurso de Tabaqueiros, dividido em categorias (Estilizado, Tradicional, Infantil). Pode ser, porventura, considerado uma ação de espetacularização da figura. No entanto, se observa que, por enquanto, se trata mais de um estímulo à criatividade e um reconhecimento do Tabaqueiro como patrimônio afogadense.